Ao longo da história, o trabalho foi a base de sustentação das sociedades. Desde a lavoura até os escritórios, fomos moldando nossa identidade pelo fazer. Trabalhar não era apenas produzir: era pertencer, contribuir, existir socialmente. Mas essa relação está sob ataque. Silenciosamente, com elegância mecânica e inteligência artificial, os robôs estão assumindo o controle.
No artigo anterior, discutimos como a convergência entre IA e biotecnologia está criando entidades vivas e conscientes em laboratórios. Agora, vamos olhar para fora dos laboratórios. Vamos para as ruas, as fábricas, os consultórios, as lojas e os centros logísticos. Porque a pergunta que antes era filosófica agora é econômica: o que sobra para os humanos em um mundo de robôs?
A nova geração de robôs: autônomos, adaptativos e humanizados
Se você ainda pensa em robôs como algo parecido com as máquinas industriais dos anos 90, prepare-se. Os novos robôs não estão presos ao chão de fábrica. Eles estão:
- Nas farmácias, como o Joseph Galbo G1, um robô farmacêutico chinês que realiza o trabalho de três pessoas com mais precisão, agilidade e empatia digital.
- Nos consultórios, como assistentes de diagnóstico por imagem.
- Nos supermercados, como repositores, fiscais de estoque e orientadores de clientes.
- Nos armazéns, onde robôs da Amazon e da Ocado movimentam milhares de pacotes por hora, 24 horas por dia, sem descanso.
O que define essa nova era é a junção entre:
- Percepção ambiental: robôs enxergam, ouvem, interpretam contextos.
- Mobilidade e autonomia: não precisam de trilhos nem comandos constantes.
- IA adaptativa: aprendem com o que veem e ajustam comportamentos.
- Interação emocional: com expressões faciais, vozes agradáveis e respostas contextuais.
O exemplo do Joseph Galbo G1: um robô que já substitui humanos
Apresentado por Amy Webb como um dos destaques da robótica aplicada em 2025, o Joseph Galbo G1 é um robô farmacêutico que:
- Organiza pedidos.
- Separa medicamentos com precisão milimétrica.
- Orienta pacientes sobre o uso correto.
- Possui uma interface facial amigável e voz customizável.
- Aprende com cada atendimento, melhorando sua abordagem.
A empresa chinesa que o desenvolveu afirma que ele reduziu erros em 98%, aumentou a satisfação dos clientes e cortou custos operacionais em 60%.
E o mais importante: não falta, não atrasa, não reclama.
Robôs humanóides: quando a aparência também importa
Outra tendência que cresceu é a dos robôs com feição humana. Eles não são apenas funcionais. São também relacionais.
- Têm pele artificial que reage ao toque e à temperatura.
- Reproduzem expressões faciais como sorrisos, surpresa e empatia.
- Usam voz natural com entonação emocional.
Isso melhora a interação em ambientes sensíveis, como:
- Recepções hospitalares.
- Atendimento a idosos.
- Suporte ao público em órgãos públicos.
Um dos robôs apresentados no SXSW 2025 foi o KobeBot, treinado para reproduzir movimentos de jogadores de basquete usando IA e sensores de movimento.
Esses não são robôs comuns. São modelos de inteligência corporal. E se conseguem aprender movimentos complexos de atletas, imagine o que podem fazer em tarefas manuais repetitivas.
A automação como tsunami silencioso
Segundo o Future Today Strategy Group (FTSG), a próxima década não trará apenas automação parcial. Vamos viver uma onda de automação total, em que:
- Tarefas físicas e cognitivas serão assumidas por robôs e agentes digitais.
- A tomada de decisão operacional será feita por IA.
- A execução será feita por robôs ou sistemas integrados.
Esse cenário não é distante:
- Na Alemanha, montadoras já operam turnos noturnos totalmente robotizados.
- No Japão, hóteis funcionam com apenas 1 humano para cada 30 robôs.
- Na China, armazéns da JD.com funcionam 100% sem mãos humanas.
E os empregos? O que resta para os humanos?
Esse é o ponto crítico. Quando os robôs eram apenas máquinas industriais, os humanos migravam para serviços. Mas agora os robôs também fazem serviços. Isso muda o jogo.
Estudos indicam:
- 83% das tarefas de atendimento serão automatizadas até 2030.
- 60% das atividades de logística e armazém serão feitas por robôs.
- 40% das decisões operacionais serão tomadas por IA sem intervenção humana.
Ou seja: o impacto não será apenas sobre cargos operacionais, mas também sobre funções intermediárias e de apoio.
O que não pode ser automatizado (por enquanto)
Apesar do avanço, existem dimensões do trabalho humano que ainda são complexas para robôs:
- Criatividade genuína.
- Empatia autêntica.
- Pensamento sistêmico.
- Resolução de problemas ambíguos.
- Relacionamento humano e liderança.
Essas serão as novas vantagens competitivas humanas. Mas não garantem emprego a todos. Será preciso requalificar, redirecionar e reinventar.
O papel dos líderes diante da automação total
- Mapear tudo que pode ser automatizado. Não é mais sobre “se”, mas “quando”.
- Planejar transição de funções e requalificação interna.
- Investir em cultura de inovação com responsabilidade. A tecnologia não é neutra. Deve servir às pessoas.
- Desenhar modelos de negócio baseados em produtividade exponencial, com impacto social positivo.
- Focar em liderança relacional, não apenas técnica. Quanto mais tecnologia, mais o humano precisa ser humano.
Conclusão: não se trata de robôs vs humanos. Mas de humanos que sabem usar robôs.
A automação total é inevitável. Robôs não vão apenas operar máquinas. Vão operar empresas, hospitais, cidades.
Mas o que fará a diferença é quem estiver no comando das decisões mais amplas. Quem tiver visão, senso de responsabilidade e coragem para integrar robôs em modelos sustentáveis e humanos.
No fim das contas, não se trata de robôs vs pessoas. Mas de pessoas que sabem liderar um mundo com robôs.
E para isso, precisamos de uma nova mentalidade, uma nova cultura e uma nova forma de liderar.